Olá...
Pois então, desde que decidi trabalhar num
blog, me propus a falar de meu trabalho com o tarô, mas a tarefa se mostrou
mergulhar mais fundo em mim do que eu mesma podia supôr e encontrar a raiz de
tudo sem me expor de modo mais íntimo seria uma missão árdua, afinal meu
trabalho se forma à partir do que sou, do que vi, do que vivi até aqui, então
estou deixando de lado essa preocupação...e que me conheçam como se deve...
Claro que nesse processo,
onde me atrevo a bancar a escritora, me perdi e ainda me perderei muito no meio
do caminho, mas espero conseguir, ao menos, transmitir o que quero e afinal sem
confusão não há vida, não é mesmo ?!
Já falei um pouquinho de
como comecei a desenvolver a arte da cartomancia, mas não disse ainda que o
baralho comum é um assunto muito difícil e delicado em minha vida! A gente fica
querendo passar a melhor parte de tudo e quando nosso trabalho trava, fica
bloqueado, nos vimos em cheque conosco mesmos. Foi o que aconteceu comigo, não
dava pra continuar pulando uma etapa, um capitulo importante dessa minha
caminhada com a Arte...
Bem, aprendi a arte com
um baralho comum. Contei do exemplo de minha mãe...mas existe um lado negro,
obscuro, triste nesse exemplo que tentei pular, para poupar minha infância ou
minha mãe, sei lá, o fato é que pulei. Nem tudo o que vi do trabalho dela foi
bonito, na verdade quase sempre não era. Por motivos que ainda não me sinto
preparada pra contar, ela negligenciou muito seu dom, durante anos. Mas a
última vez em que ela tocou em lâminas de um baralho, foi com certeza um dos
dias mais frios de minha alma. Meu irmão de apenas doze anos tinha acabado de
sofrer um acidente e enquanto era socorrido, minha mãe com as mãos no peito,
com aquele ar de mãe que está intuindo algo muito forte, me pediu pra abrir as
cartas do baralho que era dele ( meu irmão), tentei fugir disso, mas o
desespero dela era tanto...obedeci.
Nem embaralhei. Meu
coração ficou diminuto assim que toquei as cartas, tudo ficou negro e nebuloso
e eu havia entendido na minha alma que meu irmão não sobreviveria àquele
acidente. Minha mãe também entendeu e vi a morte nos olhos dela e um grito mudo
em sua alma, e ali, ainda com as mãos no peito e o desespero na alma, ela fez
uma promessa, disse que nunca mais tocaria numa carta de novo, que essa tarefa agora
era minha a partir dali. Ela ainda cumpre sua promessa mesmo depois de tantos
anos.
Então se dava início aos
meus trabalhos, não mais como aspirante, ou neófita, mas como iniciada.
Iniciada na dor. Meu irmão só sobreviveu mais cinco horas...
Também eu, nunca mais
abri um baralho comum pra ninguém...
Imediatamente, na mesma
semana, encontrei sobre a ponte do bairro São João, em minha cidade, uma amiga,
que não via há muito tempo, mas cujo amor e amizade sempre foram os mesmos, e
eis que ela, assim que vê, me abraça e diz: Não foi por acaso que te encontrei,
toma, é pra você...fui batizada numa igreja evangélica e ia agora jogar meu
baralho no rio...com aperto no coração, que bom você estar aqui. Cuida dele pra
mim?! Ganhei assim meu primeiro baralho mágico, fora os de casa, um baralho
cigano, velho, já muito usado mesmo, e é com ele que ainda trabalho, mesmo 28
anos depois... E é dele que vamos falar agora.
Baralho Cigano
O Baralho Cigano possui
36 cartas, todas com uma relação bem direta com o baralho comum, mantendo
inclusive, a simbologia dos quatro naipes já tão conhecidos por todos, seria
meramente um baralho ordinário, não fossem sua figuras simples, mas bem feitas!
Tudo nele é muito sutil, simples, mas muito forte, não há que se enganar com
esse baralho de jeito nenhum. Ele carrega uma egrégora bastante antiga, e mais
uma centena de outras, por cada clã que o adotou durante os anos de sua
existência e por isso mesmo respeito tanto quanto qualquer outro! Brincar com o
baralho cigano como se nada ou pouca importância tivesse, não seria nada
prudente. Muitas bruxas dos tempos atuais desprezam e fazem pouco da
simplicidade aparente do Baralho Cigano, como se a magia estivesse em seus
traços apenas.
Esse baralho se fez
conhecer por Marie Adelaide Lenormand, uma francesa nascida na cidade de
Alençon em 1.772. Madame Lenormand, ficou famosa por suas previsões precisas e
por atender quase toda realeza e figuras ilustres da França.
Madame Lenormand
Nascida em 27 de março de
1.772, Normandia, filha de Jean Antoine Lenormand, um negociante de tecidos e
Anne Marie Lenormand, porém ficou orfã com a idade de cinco anos e passou
então, a ser educada num colégio de freiras, era totalmente envolvida em artes,
línguas e literatura (como toda boa Bruxa, rs). Deixou Alençon em 1.786, quando
se instalou em Paris.
Ativa com a profissão de
Cartomante por mais de 40 anos e de fama já considerável durante a Era
Napoleônica. E em 1.814, Lenormand iniciou uma segunda carreira literária e
publicou muitos textos, o que causou muitas controvérsias públicas. Ela foi
perseguida e presa várias vezes, sempre por pouco tempo. ( assim conta a
história !).
Logo que chegou à Paris,
nos primeiros anos da Revolução, e, 1.790, ela trabalhou numa lavanderia, até
encontrar uma cartomante chamada Sra. Gilbert, que lhe ensinou o básico de
adivinhação de Etteilla, embora suas profecias fossem conhecidas dentro da
Abadia onde foi criada e onde suas sensibilidades foram desenvolvidas, ela
nunca tinha antes, usado um baralho como instrumento, e gostou disso, e muito!
Três anos mais tarde, ela
tem seu "Escritório de Clarividência" , que se lê sobre a porta:
" Madame Seille Lenormand, livreiro". Foi nesse periodo, que Madame
Lenormand previu uma morte violenta ao falar aos três homens mais influentes da
revolução, Marat, Rebert Pierre e Saint Just e por se fazer conhecer tal
profecia, acabou presa em 1.794 pela primeira vez.Mais tarde, ela teria
declarado ter sido presa por prever a morte de Luiz XVI. Essa previsão parece
ter aumentado a atenção ao redor de Madame e ela passou a acessar todo tipo de
pessoas interessadas em suas previsões. Mas, apesar da fama e de todo apoio de
que gozava com a elite, acabou presa novamente em 1.803 e 1.809, acusada de
traição, para alguns as previsões ousadas não passavam de truque para envio de
mensagens e ameaças. Acabou sendo expulsa de Paris em 1.808. Previu (ou jogou
uma praga, vai saber?! )então a queda de Napoleão e a restauração dos Bourbons.
Como era monarquista, viu
essa reforma com alegria. Foi muito bem recebida pelo Czar Alexandre, mas após
o assassinato dele, emigrou com muitos adversários para Bruxelas, onde foi
presa sob a acusação de espionagem para a instrução de uma de suas obras,
"Sybille congresso de Axix-la-chapelle", que passava pequenas ideias
em linha com a nova política dos gabinetes da Europa. Suas chamadas são sempre
rejeitadas e somente quando alguns de seus seguidores exercem pressão na
opinião pública, é que ela passa a ter direito à um julgamento, desta vez, por
Bruxaria. Escapou.
Em 1.830, retorna à sua
vida privada, colocando seus talentos ao serviço dos amigos ( conheço isso,rs
). Desde 1.850, ela tinha feito várias viagens para a sua terra natal, Alençon,
onde pretendia corrigir um de seus manuscritos, porém não teve tempo, morrendo
em Paris em 25 de junho de 1.843, e está enterrada na terceira divisão de P'ere
Lachaise. Ainda hoje é considerada pelos franceses e outros bruxos pelo mundo,
como a maior cartomante de todos os tempos.
Por hoje é isso. No
próximo encontro vou apresentar esse baralho, durante as cartas diárias. Quanto
à forma de jogo, pretendo postar em algum momento, mas já adianto que a forma
livre individual é sempre a melhor escolha, as formas são criadas para criar um
vínculo entre cartomante e o baralho usado, seja ele qual for. Se quiser
tentar, estude as formas apenas como ponto de apoio, mas lembre-se, conectar-se
ao seu baralho é importantíssimo. Boa sorte e até!
Luz e Paz.