quarta-feira, 18 de novembro de 2020


 

O Menino que queria ser som

Tico era criatura franzina, pequena, mas nem por isso insensível ou fraco...era só pequenino como o são todos os meninos de seis anos .
Consciente do mundo de coisas e pessoas gigantes que o rodeava, vivia maravilhado com tudo!
Tanta coisa colorida e bonita...outras nem tanto, mas ainda sim, todas muito interessantes!
As pessoas gostavam do jeito quieto que tico tinha e não perdiam uma só oportunidade de puxar assunto.
Tico, o que vc quer ser quando crescer?
Tico ficava confuso, já que ninguém explicava muito bem o que significava "crescer". Não cabia nele tal informação...não ainda!
Mas imaginativo como era, Tico se pôs à pensar... E esse pensar o seguiu por bastante tempo...tempo o suficiente pra que ele entendesse melhor as coisas.
-o que vou ser? Agora que já sei o que é crescer?
E Tico, em sua inocência de viver, fez o que todo bom menino faz quando a mente fica bagunçadinha de pensamentos curiosos...
Recorreu à sua mãe!
- Mãããe...eu posso ser o que eu quiser?
 Claro meu querido, respondeu a mãe toda satisfeita com o interesse de Tico.
Tico então saiu e perguntou ao seu pai...
- Pai, eu posso ser o que eu quiser?
- Claro filho meu...mas é bom que se lembre de ser bom nesse seu coraçãozinho sempre, tá bom?
Tico saiu satisfeito. Com uma sensação de quentinho no peito, mas também de assombro...Podia ser o que quisesse...e sua mente podia querer muitas coisas!
Descobrir o que ele mais queria era agora sua nova missão, está enganado quem pensa que foi tarefa fácil...não foi! E só depois de muitas horas, ou dias, pensando é que uma ideia maluquinha lhe ocorreu...talvez por cansaço ou só desejo de brincar com outra coisa, mas a tal ideia maluquinha foi fazendo cada vez mais sentido pra ele...até tocar forte em seu coração!
E então...num repente desses muito mágicos pra explicar, Tico saltou todo feliz e cheio de certeza...
- Quero ser som!
- Eu quero ser som... é isso!
Pou da cama para o chão, do chão para a cadeira, da cadeira para o corredor e assim fez por toda a casa, sempre gritando e sacudi do os braços pro alto...
- Quero ser som...quero ser um som qualquer...qualquer som!

Bem...por um tempo ele quase enlouqueceu os pais, que corriam de um lado para o outro em busca de um novo instrumento...corais...cantorias!
Mas dizem que valeu a pena..
Dizem que ele embelezou a cidade inteira por anos e anos com seu som tirado de um velho violão!
E mesmo hoje, tempos depois...há quem diga que ele não morreu...
Só virou música no céu!

17/11/2020
Tinguera

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

 


 Menino Zulu


Menino travesso, esperto...e que se via aventureiro em seu próprio modo de ver o mundo inteiro!
Corria de cá pra lá...
Pulava pra lá pra cá enquanto
Bisbilhotava as coisas de todos ou lugares onde sua vista podia alcançar.

"Aventura, aventura, aventura...
Venta o menino que não tem medo de cair...
Nem mesmo de alturas...
Aventura, aventura, aventura...
Pode terminar em queda...e uma boa casca dura!"

E nem assim, de gesso curando ossos, deixava de se aventurar, o menino Zulu.
Sobra ousadia em Zulu, que mesmo depois da correria...nem uma lágrima ele se permitia...aguentou forte, enquanto a dor ele escondia...
Mas o gesso expunha com orgulho típico dos aventureiros.
Que exibe sua coragem como se fosse um dos três mosqueteiros!

- Cuidado menino!
Avisa sempre carinhosa, a mamãe de Zulu!
Que ouve...se vira...e volta a sorrir!
Aaah, que vida boa a do menino Zulu!


Nascido agorinha...de mim...pra ele!
Para o filho da Shiva

Semente
 

Oiê... oiê
Oiê, oiá... oiê oiá...
Oiê oiá... sinhá

- Sinhá me chamô...
Daqui ouvi Sinhá me chamar... oiê oiá!
O que será que quer minha Sinhá?

- Sinhá me chamô...
Melhor obedecê.
- já vô Sinhá...espera, que já vô, Sinhá...
Mas não conta pra seu Dotô, não, vá?!
Seu Dotô é bravo como o quê...
- Eu peço...tenha dó de mim Sinhá... É um minuto só, vai ver

Oiêee... oiê, Sinhá
Espera sot eu dar papa de fubá
Oiê, oiá...
Pro negrinho que acabô de nascê...
E meu leite, não vai conhecê...
Oiá...oiá

Sinhá me chamô...
Melhor obedecê!
- já vô Sinhá...já vô...com meu leite alumentá, o fio do branco de seu Dotô
(Que junto no meu, acabô de nascê )

Mas eu peço, por favô Sinhá...
Me deixa só oiá...
O zóio preto que de mim, Sinhá, acabou de nascê...deu o primeiro choro...
Dos muitos que virão desse nosso vivê!
Deixa Sinhá?
Deixa?

 

Sertão Pernambucano

O tempo nublou, nublou
Fez cara de chuva...
Mas não chove.
Nunca chove!
Nublou o céu...fez frio até!
O homem daqui nem se ilude não...
Tudo é seca
Sempre seca...
No ar e nos corações sertanejos urbanos
Na roça há calor...amor por cada poeira, não importa o tempo
Estão sempre abertas as porteiras!
No asfalto,
Assalto.
Tocaia.
Um qualquer coisa vira muito...cresce olho, cresce inveja e medo e dor...
Mesmo tendo o céu nublado...o azul mudando a cor...o que se sente é dor... desesperança e só!
 

P.D Pesqueira -PE 2015
Ps: paciência...poesia é assim... não pede licença pra ser o que é!

 


 Maria Flor

Poema de apresentação
          ( Entidade feminina )

Meu nome é Maria Flor...
Porque assim quero me chamar
Meu nome de batismo, se algum há,
Não conheço, nunca ouvi!
Dizem que é obrigação  de pai
E preocupação de mãe
Ambos nunca senti!
Meu nome é Maria Flor
Faço o que eu quero, caminho do jeito que for!
Sorrindo mesmo na dor...
Sozinha ou com meu amor!


P.D 2016/jul
Durante trabalho na casa do Gutho...eu on line


Ilusão 

 Uma arvore se apaixona por um poste de luz elétrica!
Mas foi por puro engano da vontade de se apaixonar...e como em toda a região ela era a única de sua espécie  ( alias...ela era a única...nunca tendo portanto, visto qualquer outra antes...desde que era só um broto insistente naquele berço tão árido e solitário! ), aprendeu a amar a luz constante daquele ser esguio e tão diferente...misterioso e lindo!
Tudo o que a árvore sabe, é que se sente mais aquecida sempre que sua luz a toca...e as sombras que se movimentam ao seu redor, a diverte!
Ela toma para si, como um presente do poste para ela...
Como um namorado que leva para a amada, um ramalhete de flores do Campo, cada sombra...cada luz!
Os dias passam...e uma à uma, as estações acontecem...e nada parece poder estragar tamanho amor!
As diferenças nunca os afastou...
- Ao contrário, pensava ela...a diferença me instiga!
Tudo era novo e admirável desde que o poste foi "plantado" ali!
Árvore feliz...flores que perfumam...cores que vibram e sabor adocicado são sinais de uma planta plena...e era assim que ela retribuia...dando o melhor de si!
E o poste? Imponente...duro e quieto...como convêm à qualquer poste. Mas muito, muito protetor... jaz ao seu lado!
O amor sempre...sempre encontra um caminho!
Quem lhe dirá sobre a loucura de sua escolha??
Pois é...nem eu!


Tempo

Dizem que o Tempo cura tudo...
Mas pra isso precisa de tempo.
Um tempo que o homem não tem.
Um tempo que o homem não se dá.
Então o vírus vem...
E convida a humanidade pra dançar.

E a humanidade, ensandecidamente,
Dança.
E abraça a morte.
Que tira o tempo que lamentava não ter.
Que sonhava um dia ter.
Mas sobretudo...
Que lamentava não ter.

Agora tem.

Mas o homem tem pressa
De esconder o medo enqto corre pra salvar a economia
Enqto muitos estão com a morte em agonia.
Outros nem sabem como se vive numa pandemia!
A ignorância mata.
Assassina.
Mas a vida insiste...
Mais um dia!


P.D
19/07/2020