O Menino que queria ser som
Tico era criatura franzina, pequena, mas nem por isso insensível ou fraco...era só pequenino como o são todos os meninos de seis anos .
Consciente do mundo de coisas e pessoas gigantes que o rodeava, vivia maravilhado com tudo!
Tanta coisa colorida e bonita...outras nem tanto, mas ainda sim, todas muito interessantes!
As pessoas gostavam do jeito quieto que tico tinha e não perdiam uma só oportunidade de puxar assunto.
Tico, o que vc quer ser quando crescer?
Tico ficava confuso, já que ninguém explicava muito bem o que significava "crescer". Não cabia nele tal informação...não ainda!
Mas imaginativo como era, Tico se pôs à pensar... E esse pensar o seguiu por bastante tempo...tempo o suficiente pra que ele entendesse melhor as coisas.
-o que vou ser? Agora que já sei o que é crescer?
E Tico, em sua inocência de viver, fez o que todo bom menino faz quando a mente fica bagunçadinha de pensamentos curiosos...
Recorreu à sua mãe!
- Mãããe...eu posso ser o que eu quiser?
Claro meu querido, respondeu a mãe toda satisfeita com o interesse de Tico.
Tico então saiu e perguntou ao seu pai...
- Pai, eu posso ser o que eu quiser?
- Claro filho meu...mas é bom que se lembre de ser bom nesse seu coraçãozinho sempre, tá bom?
Tico saiu satisfeito. Com uma sensação de quentinho no peito, mas também de assombro...Podia ser o que quisesse...e sua mente podia querer muitas coisas!
Descobrir o que ele mais queria era agora sua nova missão, está enganado quem pensa que foi tarefa fácil...não foi! E só depois de muitas horas, ou dias, pensando é que uma ideia maluquinha lhe ocorreu...talvez por cansaço ou só desejo de brincar com outra coisa, mas a tal ideia maluquinha foi fazendo cada vez mais sentido pra ele...até tocar forte em seu coração!
E então...num repente desses muito mágicos pra explicar, Tico saltou todo feliz e cheio de certeza...
- Quero ser som!
- Eu quero ser som... é isso!
Pou da cama para o chão, do chão para a cadeira, da cadeira para o corredor e assim fez por toda a casa, sempre gritando e sacudi do os braços pro alto...
- Quero ser som...quero ser um som qualquer...qualquer som!
Bem...por um tempo ele quase enlouqueceu os pais, que corriam de um lado para o outro em busca de um novo instrumento...corais...cantorias!
Mas dizem que valeu a pena..
Dizem que ele embelezou a cidade inteira por anos e anos com seu som tirado de um velho violão!
E mesmo hoje, tempos depois...há quem diga que ele não morreu...
Só virou música no céu!
17/11/2020
Tinguera

"A primeira regra deste jogo é que não é um jogo. Deve ser jogado por todos. Você deve amar-nos. Você deve continuar vivendo. Seja você mesmo, mas representando um papel consistente e aceitável. Controle-se se seja natural. Procure ser sincero." Do livro:Tabu,por Alan Watts, coleção Planeta,1973 - edição especial n. 53-A
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
Menino Zulu
Menino travesso, esperto...e que se via aventureiro em seu próprio modo de ver o mundo inteiro!
Corria de cá pra lá...
Pulava pra lá pra cá enquanto
Bisbilhotava as coisas de todos ou lugares onde sua vista podia alcançar.
"Aventura, aventura, aventura...
Venta o menino que não tem medo de cair...
Nem mesmo de alturas...
Aventura, aventura, aventura...
Pode terminar em queda...e uma boa casca dura!"
E nem assim, de gesso curando ossos, deixava de se aventurar, o menino Zulu.
Sobra ousadia em Zulu, que mesmo depois da correria...nem uma lágrima ele se permitia...aguentou forte, enquanto a dor ele escondia...
Mas o gesso expunha com orgulho típico dos aventureiros.
Que exibe sua coragem como se fosse um dos três mosqueteiros!
- Cuidado menino!
Avisa sempre carinhosa, a mamãe de Zulu!
Que ouve...se vira...e volta a sorrir!
Aaah, que vida boa a do menino Zulu!
Nascido agorinha...de mim...pra ele!
Para o filho da Shiva
Oiê... oiê
Oiê, oiá... oiê oiá...
Oiê oiá... sinhá
- Sinhá me chamô...
Daqui ouvi Sinhá me chamar... oiê oiá!
O que será que quer minha Sinhá?
- Sinhá me chamô...
Melhor obedecê.
- já vô Sinhá...espera, que já vô, Sinhá...
Mas não conta pra seu Dotô, não, vá?!
Seu Dotô é bravo como o quê...
- Eu peço...tenha dó de mim Sinhá... É um minuto só, vai ver
Oiêee... oiê, Sinhá
Espera sot eu dar papa de fubá
Oiê, oiá...
Pro negrinho que acabô de nascê...
E meu leite, não vai conhecê...
Oiá...oiá
Sinhá me chamô...
Melhor obedecê!
- já vô Sinhá...já vô...com meu leite alumentá, o fio do branco de seu Dotô
(Que junto no meu, acabô de nascê )
Mas eu peço, por favô Sinhá...
Me deixa só oiá...
O zóio preto que de mim, Sinhá, acabou de nascê...deu o primeiro choro...
Dos muitos que virão desse nosso vivê!
Deixa Sinhá?
Deixa?
Sertão Pernambucano
O tempo nublou, nublou
Fez cara de chuva...
Mas não chove.
Nunca chove!
Nublou o céu...fez frio até!
O homem daqui nem se ilude não...
Tudo é seca
Sempre seca...
No ar e nos corações sertanejos urbanos
Na roça há calor...amor por cada poeira, não importa o tempo
Estão sempre abertas as porteiras!
No asfalto,
Assalto.
Tocaia.
Um qualquer coisa vira muito...cresce olho, cresce inveja e medo e dor...
Mesmo tendo o céu nublado...o azul mudando a cor...o que se sente é dor... desesperança e só!
P.D Pesqueira -PE 2015
Ps: paciência...poesia é assim... não pede licença pra ser o que é!
Maria Flor
Poema de apresentação
( Entidade feminina )
Meu nome é Maria Flor...
Porque assim quero me chamar
Meu nome de batismo, se algum há,
Não conheço, nunca ouvi!
Dizem que é obrigação de pai
E preocupação de mãe
Ambos nunca senti!
Meu nome é Maria Flor
Faço o que eu quero, caminho do jeito que for!
Sorrindo mesmo na dor...
Sozinha ou com meu amor!
P.D 2016/jul
Durante trabalho na casa do Gutho...eu on line
Ilusão
Uma arvore se apaixona por um poste de luz elétrica!
Mas foi por puro engano da vontade de se apaixonar...e como em toda a região ela era a única de sua espécie ( alias...ela era a única...nunca tendo portanto, visto qualquer outra antes...desde que era só um broto insistente naquele berço tão árido e solitário! ), aprendeu a amar a luz constante daquele ser esguio e tão diferente...misterioso e lindo!
Tudo o que a árvore sabe, é que se sente mais aquecida sempre que sua luz a toca...e as sombras que se movimentam ao seu redor, a diverte!
Ela toma para si, como um presente do poste para ela...
Como um namorado que leva para a amada, um ramalhete de flores do Campo, cada sombra...cada luz!
Os dias passam...e uma à uma, as estações acontecem...e nada parece poder estragar tamanho amor!
As diferenças nunca os afastou...
- Ao contrário, pensava ela...a diferença me instiga!
Tudo era novo e admirável desde que o poste foi "plantado" ali!
Árvore feliz...flores que perfumam...cores que vibram e sabor adocicado são sinais de uma planta plena...e era assim que ela retribuia...dando o melhor de si!
E o poste? Imponente...duro e quieto...como convêm à qualquer poste. Mas muito, muito protetor... jaz ao seu lado!
O amor sempre...sempre encontra um caminho!
Quem lhe dirá sobre a loucura de sua escolha??
Pois é...nem eu!
Tempo
Dizem que o Tempo cura tudo...
Mas pra isso precisa de tempo.
Um tempo que o homem não tem.
Um tempo que o homem não se dá.
Então o vírus vem...
E convida a humanidade pra dançar.
E a humanidade, ensandecidamente,
Dança.
E abraça a morte.
Que tira o tempo que lamentava não ter.
Que sonhava um dia ter.
Mas sobretudo...
Que lamentava não ter.
Agora tem.
Mas o homem tem pressa
De esconder o medo enqto corre pra salvar a economia
Enqto muitos estão com a morte em agonia.
Outros nem sabem como se vive numa pandemia!
A ignorância mata.
Assassina.
Mas a vida insiste...
Mais um dia!
P.D
19/07/2020
Era uma vez...uma bruxa de verdade verdadeira, dessas que cozinham em caldeirões de ferro e fazem suas próprias vassouras de ervas cheirosas e floridas...
Seu nome era Margarete e ela gostava de muitas coisas interessantes, como desenhar com giz de cera e lápis de cor.
Gostava do mar...e o cheiro da água salgada!
Gostava da mata, e da água fria dos rios e das cachoeiras!
Margarete possuía lindos olhos azuis que nos faz pensar no mar de alguma ilha distante... Quando falava, tinha um sotaque que alegrava quem ouvia e um sorriso que curava até mesmo os corações mais tristes...
De fato, não era uma bruxa comum!
Colecionava pedras coloridas e nenhuma flor passava despercebida em seu lindo jardim!
Mas o que mais chamava a atenção das pessoas no vilarejo onde vivia a bruxa Margarete, é que tudo o que dizia...parecia poesia!
Não perdia uma só chance de falar em rimas!
Bastava que lhe perguntassem qualquer coisa...
-ola...como você está hoje?
E logo vinha uma rima como resposta:
- estou bem minha querida! O sol me aquece e até cura minha ferida!
E qdo alguém, busca seus feitiços...tb não escapam disso!
- Margarete, Margarete, me ensina a curar minha joanete?
- pra joanete, caminho é fácil, embora seja lento...ande de sapatos confortáveis, e os velhos, pode deixa-los ao relento!
A bruxa Margarete, tb tinha muitas manias.
Como cuidar dos bichos da florestas, como se fossem tuas crias.
Criava aranhas, corujas e lagartixas
E todos os bichos lhes faziam companhia!
Certa vez, dois sapinhos entram no lago onde ela se banhava todo dia! Mas não ficou brava como era de se esperar de uma bruxa, como por aí se via...
Em vez disso...de um lado para o outro, os seguia com sua redinha, enqto repetia:
"O sapinho e a sapinha começaram à namorar...
Um nas costas da outra, felizes a saltitar.
Saltidando, saltidando na lagoa acabaram de adentrar
E na água fria, quem consegue namorar?
E na lagoa gelada, um salta daqui e outro de lá
Mas nada de conseguir sair de lá.
O jeito então foi apelar
E começaram a coaxar
Um chamando daqui e outro de acolá
E la vou eu, de novo, esses bichos, da água tirar"
Assim passava os dias essa bruxinha especial...
Cuidando do jardim, colecionando pedras coloridas e conchas do mar...
Rimando palavras, desenhando mandalas, que ela jurava poderem curar!
Mas um dia...algo aconteceu!
A bruxa Margarete, de repente...desapareceu!
Saiu pra ver o mar...tomou banho na cachoeira e foi pra casa descansar!
Se deitou em sua cama, e se viu a sonhar...
Sonhava que podia voar...
E de tanto sonhar...fez para si mesma um par de asas com penas de coruja e de sabiás.
Abriu a janela, cumprimentou a lua e deixou tudo no lugar...não levou nada, pra viagem não pesar...
E deixou muita...muita saudade e estórias pra contar!
Onde está agora a bruxa Margarete?
Alguns dizem que foi pro céu...
Outros dizem que está no fundo do mar!
Mas certo mesmo... é que ainda nos inspira à tb rimar!
Afinal...como dizia ela:
"Vida é feita de poesia...
Feita pra rimar...
Como fomos feitos para amar!"
E até hoje...sempre que uma rima nova surge no vilarejo, se sabe que é a bruxa Margarete se fazendo presente...como mágica...num lampejo...nos dando um caloroso beijo!
P.D
Para a Márcia!
https://pixabay.com/pt/users/graphicmama-team-2641041