segunda-feira, 26 de maio de 2014

Baralho Cigano



Olá...
Pois então, desde que decidi trabalhar num blog, me propus a falar de meu trabalho com o tarô, mas a tarefa se mostrou mergulhar mais fundo em mim do que eu mesma podia supôr e encontrar a raiz de tudo sem me expor de modo mais íntimo seria uma missão árdua, afinal meu trabalho se forma à partir do que sou, do que vi, do que vivi até aqui, então estou deixando de lado essa preocupação...e que me conheçam como se deve...
Claro que nesse processo, onde me atrevo a bancar a escritora, me perdi e ainda me perderei muito no meio do caminho, mas espero conseguir, ao menos, transmitir o que quero e afinal sem confusão não há vida, não é mesmo ?!
Já falei um pouquinho de como comecei a desenvolver a arte da cartomancia, mas não disse ainda que o baralho comum é um assunto muito difícil e delicado em minha vida! A gente fica querendo passar a melhor parte de tudo e quando nosso trabalho trava, fica bloqueado, nos vimos em cheque conosco mesmos. Foi o que aconteceu comigo, não dava pra continuar pulando uma etapa, um capitulo importante dessa minha caminhada com a Arte...
Bem, aprendi a arte com um baralho comum. Contei do exemplo de minha mãe...mas existe um lado negro, obscuro, triste nesse exemplo que tentei pular, para poupar minha infância ou minha mãe, sei lá, o fato é que pulei. Nem tudo o que vi do trabalho dela foi bonito, na verdade quase sempre não era. Por motivos que ainda não me sinto preparada pra contar, ela negligenciou muito seu dom, durante anos. Mas a última vez em que ela tocou em lâminas de um baralho, foi com certeza um dos dias mais frios de minha alma. Meu irmão de apenas doze anos tinha acabado de sofrer um acidente e enquanto era socorrido, minha mãe com as mãos no peito, com aquele ar de mãe que está intuindo algo muito forte, me pediu pra abrir as cartas do baralho que era dele ( meu irmão), tentei fugir disso, mas o desespero dela era tanto...obedeci.
Nem embaralhei. Meu coração ficou diminuto assim que toquei as cartas, tudo ficou negro e nebuloso e eu havia entendido na minha alma que meu irmão não sobreviveria àquele acidente. Minha mãe também entendeu e vi a morte nos olhos dela e um grito mudo em sua alma, e ali, ainda com as mãos no peito e o desespero na alma, ela fez uma promessa, disse que nunca mais tocaria numa carta de novo, que essa tarefa agora era minha a partir dali. Ela ainda cumpre sua promessa mesmo depois de tantos anos.
Então se dava início aos meus trabalhos, não mais como aspirante, ou neófita, mas como iniciada. Iniciada na dor. Meu irmão só sobreviveu mais cinco horas...                                           
Também eu, nunca mais abri um baralho comum pra ninguém...
Imediatamente, na mesma semana, encontrei sobre a ponte do bairro São João, em minha cidade, uma amiga, que não via há muito tempo, mas cujo amor e amizade sempre foram os mesmos, e eis que ela, assim que vê, me abraça e diz: Não foi por acaso que te encontrei, toma, é pra você...fui batizada numa igreja evangélica e ia agora jogar meu baralho no rio...com aperto no coração, que bom você estar aqui. Cuida dele pra mim?! Ganhei assim meu primeiro baralho mágico, fora os de casa, um baralho cigano, velho, já muito usado mesmo, e é com ele que ainda trabalho, mesmo 28 anos depois... E é dele que vamos falar agora.

                                                     
                                                                                                      
                                                 Baralho Cigano

O Baralho Cigano possui 36 cartas, todas com uma relação bem direta com o baralho comum, mantendo inclusive, a simbologia dos quatro naipes já tão conhecidos por todos, seria meramente um baralho ordinário, não fossem sua figuras simples, mas bem feitas! Tudo nele é muito sutil, simples, mas muito forte, não há que se enganar com esse baralho de jeito nenhum. Ele carrega uma egrégora bastante antiga, e mais uma centena de outras, por cada clã que o adotou durante os anos de sua existência e por isso mesmo respeito tanto quanto qualquer outro! Brincar com o baralho cigano como se nada ou pouca importância tivesse, não seria nada prudente. Muitas bruxas dos tempos atuais desprezam e fazem pouco da simplicidade aparente do Baralho Cigano, como se a magia estivesse em seus traços apenas.
Esse baralho se fez conhecer por Marie Adelaide Lenormand, uma francesa nascida na cidade de Alençon em 1.772. Madame Lenormand, ficou famosa por suas previsões precisas e por atender quase toda realeza e figuras ilustres da França.

                                                       Madame Lenormand

Nascida em 27 de março de 1.772, Normandia, filha de Jean Antoine Lenormand, um negociante de tecidos e Anne Marie Lenormand, porém ficou orfã com a idade de cinco anos e passou então, a ser educada num colégio de freiras, era totalmente envolvida em artes, línguas e literatura (como toda boa Bruxa, rs). Deixou Alençon em 1.786, quando se instalou em Paris.
Ativa com a profissão de Cartomante por mais de 40 anos e de fama já considerável durante a Era Napoleônica. E em 1.814, Lenormand iniciou uma segunda carreira literária e publicou muitos textos, o que causou muitas controvérsias públicas. Ela foi perseguida e presa várias vezes, sempre por pouco tempo. ( assim conta a história !).
Logo que chegou à Paris, nos primeiros anos da Revolução, e, 1.790, ela trabalhou numa lavanderia, até encontrar uma cartomante chamada Sra. Gilbert, que lhe ensinou o básico de adivinhação de Etteilla, embora suas profecias fossem conhecidas dentro da Abadia onde foi criada e onde suas sensibilidades foram desenvolvidas, ela nunca tinha antes, usado um baralho como instrumento, e gostou disso, e muito!
Três anos mais tarde, ela tem seu "Escritório de Clarividência" , que se lê sobre a porta: " Madame Seille Lenormand, livreiro". Foi nesse periodo, que Madame Lenormand previu uma morte violenta ao falar aos três homens mais influentes da revolução, Marat, Rebert Pierre e Saint Just e por se fazer conhecer tal profecia, acabou presa em 1.794 pela primeira vez.Mais tarde, ela teria declarado ter sido presa por prever a morte de Luiz XVI. Essa previsão parece ter aumentado a atenção ao redor de Madame e ela passou a acessar todo tipo de pessoas interessadas em suas previsões. Mas, apesar da fama e de todo apoio de que gozava com a elite, acabou presa novamente em 1.803 e 1.809, acusada de traição, para alguns as previsões ousadas não passavam de truque para envio de mensagens e ameaças. Acabou sendo expulsa de Paris em 1.808. Previu (ou jogou uma praga, vai saber?! )então a queda de Napoleão e a restauração dos Bourbons.
Como era monarquista, viu essa reforma com alegria. Foi muito bem recebida pelo Czar Alexandre, mas após o assassinato dele, emigrou com muitos adversários para Bruxelas, onde foi presa sob a acusação de espionagem para a instrução de uma de suas obras, "Sybille congresso de Axix-la-chapelle", que passava pequenas ideias em linha com a nova política dos gabinetes da Europa. Suas chamadas são sempre rejeitadas e somente quando alguns de seus seguidores exercem pressão na opinião pública, é que ela passa a ter direito à um julgamento, desta vez, por Bruxaria. Escapou.
Em 1.830, retorna à sua vida privada, colocando seus talentos ao serviço dos amigos ( conheço isso,rs ). Desde 1.850, ela tinha feito várias viagens para a sua terra natal, Alençon, onde pretendia corrigir um de seus manuscritos, porém não teve tempo, morrendo em Paris em 25 de junho de 1.843, e está enterrada na terceira divisão de P'ere Lachaise. Ainda hoje é considerada pelos franceses e outros bruxos pelo mundo, como a maior cartomante de todos os tempos.
Por hoje é isso. No próximo encontro vou apresentar esse baralho, durante as cartas diárias. Quanto à forma de jogo, pretendo postar em algum momento, mas já adianto que a forma livre individual é sempre a melhor escolha, as formas são criadas para criar um vínculo entre cartomante e o baralho usado, seja ele qual for. Se quiser tentar, estude as formas apenas como ponto de apoio, mas lembre-se, conectar-se ao seu baralho é importantíssimo. Boa sorte e até!

Luz e Paz.





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